Liberdade de imprensa ou sensacionalismo? As manipulações midiáticas.





Prof. Pablo Michel Magalhães
Redação d'O Historiante


Há um princípio que devemos prezar e fomentar: a imprensa deve ser livre, para que possa atuar em sua plenitude. Entretanto, até que ponto essa liberdade pode ser confundida com sensacionalismo barato? Acredito que a sensatez deva atuar como filtro para que possamos produzir bons trabalhos. Porém, quando a vontade de obter audiência é superior aos sentimentos dos envolvidos, o que dizer? Como agir? É incrível como nossa TV aberta vomita a todo momento exemplos desse tipo.

Recentemente, foi veiculada na mídia uma entrevista com o ex-ator Guilherme de Pádua, réu confesso no assassinato da atriz Daniella Perez, filha da autora Glória Perez, em dezembro de 1992. Orquestrada pelo jornalista Marcelo Rezende, toda a reportagem é direcionada para a tentativa de transformar o assassino em uma vítima do destino. Ao repetir a mesma versão de anos atrás (de que teria simplesmente separado uma briga entre a atriz e sua ex-esposa, assim asfixiando Daniella sem querer), Guilherme, agora um quarentão sem o mesmo porte físico dos tempos de ator, busca persuadir o telespectador de que seria apenas um coitado, puramente refém da situação em que sua ex-esposa (sobre quem ele deixa recair a culpa) o havia metido, por ciúmes.

Através das entrevistas selecionadas e do texto narrado pelo Marcelo Rezende ao longo dos quase 42 minutos de exibição, o intuito da reportagem fica claro: Guilherme não é culpado. E isso, anos depois de o caso ter sido julgado, o veredito decretado e de o próprio ex-ator ter cumprido sua pena, como culpado. A meu ver, não passou de uma tentativa (péssima e de muito mal gosto, diga-se de passagem) de redimir um réu confesso. Se não há nada o que esclarecer, qual o intuito de uma pessoa ser levada à TV para dizer que quer pedir perdão? Ninguém precisa de mídia para tal.

Há, pelo contrário, que se respeitar a dor de uma mãe ao perder sua filha, e da maneira mais bárbara e covarde possível.



Para completar a matéria, a emissora ainda utilizou-se de um argumento religioso para evidenciar a transformação de Guilherme de Pádua. Ao enfatizar sua conversão, em uma igreja evangélica de Minas Gerais, e sua condição de missionário, claramente a reportagem elucida sua nova condição. De bandido a mocinho.

Obviamente, acredito que pessoas possam mudar, redimir-se, encontrar um rumo melhor. Porém, nada disso apaga o passado, muito menos um fato tão horrendo, tampouco transforma assassinos em heróis da noite para o dia.

Outra indigesta reportagem foi veiculada pela mesma rede de TV, com o evidente cunho religioso/ideológico  disfarçado sob a pseudo desculpa de defesa das liberdades religiosas. O argumento da matéria foi o seguinte: ao exibir uma minissérie com alusões às religiões afro-brasileiras (a produção televisiva em questão é O canto da sereia, da Rede Globo), a TV produtora estaria fomentando valores que não estariam condizentes com os preceitos religiosos do cristianismo, o que revoltou um pastor evangélico que, manifestando-se publicamente contra a minissérie, proibiu todos os fiéis de sua igreja de assistir aos episódios. 

Bissexualidade, referências ao Candomblé e Ogum foram alguns dos argumentos colocados de maneira negativa ao longo de toda a reportagem, além da utilização de uma antropóloga "acusando" a emissora de fazer utilização de elementos da cultura afro-brasileira. Tudo isso, sob um tenebroso som de suspense.

Um total desrespeito à cultura religiosa negra no Brasil e desserviço à população. Principalmente pelo fato de que, de acordo com a Constituição do país (essa famigerada que ninguém respeita), vivemos em um Estado laico, onde todas as crenças devem ser respeitadas, e professar fés diferentes não é crime.

No mais, deixo aos demais essa reflexão. Nosso jornalismo é palco para propagandear ideologias, fomentar o sensacionalismo ou praticar a liberdade de opinião?

P.S.: As reportagens aqui citadas podem facilmente ser encontradas no YouTube. Sim, são da Rede Record. E não, estou longe de gostar da Globo. Prefiro ler livros. Como os que a Saraiva tem em seu acervo. Confira abaixo.

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