"Dar peixes ou ensinar a pescar", uma breve discussão sobre os projetos sociais no Brasil.
Prof.ª Josi Brandão
Redação d'O Historiante
Todo mundo quer ajudar,
isso acaba favorecendo a presença tão forte dos projetos sociais no Brasil. Mas, criar um modelo perfeito de projeto social não é tarefa fácil, seja na prática
ou na teoria. Algumas pessoas defendem arduamente sua existência, enquanto
outros criticam e chamam esses projetos de "programa eleitoreiro", alegando
também não existir uma solução de fato que possa ser aplicada a qualquer
contexto. Mas, o verdadeiro impasse gerado na discussão recai sobre o
assistencialismo, em alguns momentos colocado num altar, em outros momentos, lançado
às trevas.
Para muitos, um projeto
social só é válido se garantir a independência do individuo em relação ao
programa para o qual foi direcionado, em um curto espaço de tempo. Ou seja, caminhar com
as próprias pernas. Então, o segredo seria investir nos programas de
profissionalização e de geração de empregos, além de ensino de qualidade, para
preparar melhor o futuro trabalhador e, além disso, o incentivo à criação de
programas de incubadoras, onde as pessoas seriam capacitadas profissionalmente
em determinados locais, financiados pelo poder público, aprendendo, com a
supervisão de técnicos ou até mesmo de universidades, a lidar com novos meios
de trabalho, como, por exemplo, as novas tecnologias, para que possam se tornar
capazes de seguir em frente sozinhos, em cooperativas ou em pequenas empresas.
Outro ponto relevante é
que, com o aumento da tecnologia, de certa forma diminui o número de empregos,
devido ao uso dessas técnicas que acabam substituindo a mão-de-obra humana
assalariada. Isso poderia fazer com que o governo usasse isso a seu favor,
estimulando o trabalho por conta própria, dependendo menos da carteira assinada
e sem depender de tantos assistencialismos.
As possibilidades de
trabalho autônomo, infelizmente, não chegam ao conhecimento de quem mais precisa:
as populações carentes e desempregadas, pois, para trabalhar dessa forma, é
preciso saber ler e escrever, ter tido a oportunidade de desenvolver o intelecto, a criatividade, o espírito crítico e a iniciativa também. A falta
de empregos não é uma característica recente, a grande maioria dos
trabalhadores estão excluídos do trabalho formal, pois, em áreas carentes, mais
da metade da população vive de “bicos”.
Realmente, no contexto
social em que vivemos, a única solução para retirar essas pessoas da miséria
seria a criação de programas que mesclem saúde, educação, profissionalização,
crescimento aliado à geração de emprego. Se não for assim, cai no
assistencialismo, sem perspectivas de crescimento, uma sociedade amparada pelo
governo, inerte, capaz de trocar o trabalho pela “ajuda” governamental.
Programas como o Bolsa
Família em nada resolvem o problema critico do país e só tornam pessoas
eternamente dependente desses programas. Esse tipo de ajuda devia se limitar
apenas a momentos emergenciais. Muitos brasileiros no nordeste vêm passando pela
pior seca dos últimos quarenta anos e
precisam realmente de ajuda, mas apenas para compensar a crise gerada pela
seca. O resto se resume a esmola.
O assistencialismo,
solução encontrada por muitos políticos brasileiros ao longo da historia, sempre foi caracterizado por ações
tópicas, descontínuas, eleitoreiras, que reproduzem e perpetuam a pobreza, pois
reforçam a ideia de dependência econômica e, ainda por cima, com um custo alto
para o governo, a longo prazo. Não nego que o governo deva garantir ajuda à população, mas abrir o leque para os programas não estimula crescimento
econômico, não cria perspectivas para a população carente alcançar melhores condições de vida, prosperar dentro do seu espaço, já que pobreza não é só falta de
dinheiro.
Assistências, como o
Bolsa Família, por exemplo, não criam condições para que a pessoa se
auto-sustente. Quem as defende sob esse ponto de vista comete engano. Agora,
não podemos deixar de avaliar que, para o ser humano, a vontade de progredir precisa estar
viva, bem alimentada e o acesso à educação, principalmente, vai fornecer-lhe os meios para conseguir melhorias de vida. Mas, o indivíduo tem que estar preparado de fato para buscar sua autonomia,
caso contrário, formaremos cidadãos dependentes, eternamente pobres.
Discutir sobre os
programas sociais gera polêmica, por que cada um tem sua opinião, para muitos
de forma positiva, para outros negativa, depende do ponto de vista que se
analisa. O governo realmente tem a
obrigação de zelar pelo bem estar da população, sendo obrigado a fazer escolhas
de investimento. Então, vendo assim, podemos dizer que um programa bem sucedido
nem sempre passa tanto pelos resultados satisfatórios que alcança, mas sim pelo
cumprimento da ordem de prioridade. É daí que vem sua legitimidade. Deve-se
perguntar, então, se ele é realmente necessário e primordial naquele momento, a
ponto de consumir os primeiros recursos disponíveis. Por exemplo, o acesso à
água e ao esgoto é importante, ninguém contesta, mas isso está em primeiro lugar na ordem de prioridades da
população?
Essa prática existe ou
já existiu em quase todos os países desenvolvidos. Inglaterra, França e Alemanha
fizeram programas desse tipo em períodos de guerra, de problemas econômicos ou
para compensar parte da população por perseguições religiosas ou étnicas.
Mas foram programas temporários, para
resolver problemas emergenciais.
Os programas não devem
ser apenas lançados como proposta do governo. Eles devem ter uma preocupação
inclusive com uma adaptação regional, como é o caso de uma favela onde os moradores seriam beneficiados com a
construção de conjuntos habitacionais populares. Mas, mesmo tendo vinte mil
famílias no local, só cinco mil seriam contempladas com novas habitações. Para
se evitar o clientelismo, a escolha foi feita por sorteio. Então eu pergunto
mais uma vez, a escolha foi correta? Se analisarmos bem, cada morador foi para
um conjunto diferente e distante, desfez-se a rede social da vizinhança da favela,
que é composta não só por formas de sociabilidade, mas, também, inclui mecanismos
de sobrevivência. A distância atrapalha a organização deles porque são pessoas
pobres, e um depende do outro ali dentro.
E para finalizar a
discussão, só o governo deve fazer programas sociais? E a participação das
empresas não devia ser estimulada, a ponto de criar condições especificas dentro
da sua área, por exemplo? O retorno pode até não ser algo material, mas
poderá promover a imagem da própria empresa, pois elas não precisam se
preocupar com resultados sociais, como o governo. Afinal, com propostas bem feitas, as empresas podem gerar
empregos e rendas, que é um dos princípios do capitalismo, ou seja, um beneficio
que as próprias empresas vão ter de retorno. Sua ajuda deveria ser uma
exigência do governo, aliando assim programas de apoio à população e
sustentabilidade econômica.
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