Filmes - For Colored Girls





Prof. André Araújo
Redação d'O Historiante


Histórias que se cruzam. Dramas que se relacionam e demonstram que dramas individuais, não necessariamente, são dramas de uma pessoa só, mas são apenas um exemplar de fenômenos e de traumas estruturais que são compartilhados por toda uma sociedade. A receita parece simples e o filme poderia ser um clichê. Só que não é! For Colored Girls é um drama lançado em 2010. Adaptado de um livro de poesias, escrito por Ntozake Shange (uma autora que se auto-afirma como uma feminista negra) em 1975. O livro de poesias tem o nome de “For Colored Girls Who Have Considered Suicide When the Rainbow is Enuf” (Para Mulheres Pretas que Tem Considerado o Suicídio Quando o Arco-íris é Suficiente). Escrito, dirigido e produzido por Tyler Perry, o filme apresenta um elenco que inclui Janet Jackson, Whoopi Goldberg, Phylicia Rashad, Thandie Newton, Loretta Devine, Anika Noni Rose, Kimberly Elise, Macy Gray e Kerry Washington.

Mulheres afro-americanas vivenciam cerca de 20 poemas sobre os dramas e dificuldades que as mulheres negras, de um modo geral, sofreram com o passado de escravidão e o ainda recente racismo que impregna as sociedades urbanas, neste caso, no contexto dos EUA. De forma sutil, porém direta, o filme mostra de que forma é possível, dentro do contexto do racismo, termos uma sociedade mais desigual e cruel. Como? É possível perceber o racismo mais virulento quando aplicado ao universo feminino.

A peça de Shange é considerada um marco na literatura americana, especificamente na literatura do “feminismo preto”.  O filme retrata as vidas interligadas de nove mulheres, explorando os dramas de suas vidas em diversos estratos sociais e faixas etárias, perpassando por discussões sobre sexualidade, aborto, violência sexual, distúrbios psicológicos que atingem a população negra, dificuldades para obter um bom ensino. O filme busca retratar diversos momentos de trajetórias de vida de mulheres dentro de um contexto de problemas sócio-raciais. É o primeiro filme a ser produzido pela 34th Street Films, uma marca dos Tyler Perry Studios, e distribuído pela Lions Gate Entertainment.

É também o primeiro filme de Perry, até o momento. Com um orçamento de US $ 21 milhões, For Colored Girls foi lançado em 5 de novembro de 2010, arrecadando US $ 20,1 milhões em seu fim de semana de abertura. Com críticas geralmente mistas, vários críticos têm afirmado que Tyler Perry não conseguiu traduzir adequadamente a peça de teatro original para filme, enquanto os críticos mais favoráveis descrevem o filme como seu melhor trabalho até a data. A autora, Shange, não escondeu a sua apreensão em permitir que Perry, pelo fato de ser homem, adaptasse seu trabalho, mas acabou apoiando a iniciativa de execução do filme (Ainda bem! O filme é muito bom!).

Durante o desenrolar da trama, alguns poemas são utilizados como fala das personagens. De forma não forçada, passa para o espectador uma impressão natural de diálogo, em vez de uma forçação de barra em apresentar poesias dentro do que seria um diálogo. Um dos motivos de críticas positivas: colocar na linguagem fílmica, sem parecer brusca, os textos poéticos. Unidas pela cor, as múltiplas historias que se entrecruzam dessas mulheres são debatidas em temas que orbitam a discussão sobre o amor, o aborto, a violação e o abandono. 

A obra de Ntozake Shange é um tributo à força e à dignidade das mulheres negras e seu papel protagonista e guerreiro na construção de uma sociedade. Evidencia o protagonismo feminino e sua independência, em contrapartida ao senso comum que silencia a ação feminina e que tenta reproduzir discursos de dependência e incapacidade. Um filme necessário para homens e mulheres que queiram discutir sobre feminismos e as dificuldades das mulheres numa sociedade tão desigual. 

Perguntas que devem ser feitas após a visualização do filme: Será que atitudes feministas só surgiram nas sociedades modernas e urbanizadas após a queima de sutiãs? Como, silenciosamente, desenvolveu-se um feminismo empírico nas sociedades modernas, independente do contexto fabril? Esse feminismo, que insere a mulher no contexto do capital e prescinde das questões étnicas, serve para as mulheres negras até que ponto? Quais suas fragilidades quando se faz um recorte étnico? Só  provocações...

Clique aqui e faça o download do filme!



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