Livro - "Lampião: violência e esperteza", de Isabel Lustosa




Prof.ª Joyce Oliveira
Redação d'O Historiante

Abordando aspectos para além da visão de Robin Hood do sertão, Isabel Lustosa, ao longo do livro Lampião: Violência e esperteza, constrói o percurso do terror do Nordeste no início do século XX a partir do seu representante máximo - Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião.

A contribuição mais importante do livro está no fato de a autora apresentar a figura de Lampião como realmente foi  (violento, preocupado com seus próprios interesses), diferentemente do que é lembrado e tido na memória dos nordestinos.


O cangaço, tendo suas atividades já representativas, exercia fascínio sobre os jovens da época, desde Antônio Silvino (1874-1914). Os contatos com este e com outro famoso bandido, Sebastião Pereira, foram importantes para que Virgulino Ferreira (Lampião) entrasse para o cangaço. Ao contrário da visão comum, que difunde que Lampião havia ingressado no banditismo após a morte de seu pai (também chamado Virgulino), foram as confusões que criou, juntamente com seus irmãos, que levaram toda a família a se mudar diversas vezes pelos estados nordestinos. Numa destas, o patriarca foi morto pela polícia.

Antônio Silvino

Tomando o comando do bando de cangaceiros de Sebastião Pereira em 1922 (que se 'aposentou'), Virgulino tornou-se Lampião (devido à rapidez com que atirava, criando clarões de luz) e assim, começou a espalhar medo pelo interior do sertão. Ele sentia-se coronel, agia como um, e negociava com eles: em troca de pagamento para não invadir terras, ganhar munições, posto de descanso durante as viagens. A polícia só entrava em conflitos contra os cangaceiros quando obrigada e a população ficava à mercê dos desmandos de Lampião: todos eram obrigados a colaborar por bem ou por mal e houveram muitas mortes, estupros, castrações.

 
As relações de Lampião com Padre Cícero eram boas e, devido a isso, não atacava o Ceará. Era muito místico (como a maioria dos sertanejos), carregava escapulários, terços, rosários e uma oração (da pedra cristalina) que acreditava que 'fechava' seu corpo. Sua fama de simpático e generoso veio porque pagava bebidas em festas e pares a quem estivesse por perto. 


Maria Bonita apareceu na vida do cangaceiro na fase mais tranquila e o conquistou. A presença de mulheres (vinham por querer ou eram raptadas) diminuiu a violência e os conflitos entre os 'cabras'. Elas só executavam trabalhos 'femininos' e se fosse necessário 'espionavam'. Se traíssem, eram mortas. As crianças nascidas da união eram dadas aos parentes para serem criadas.

A repressão efetiva e final só ocorreu no período do Estado Novo, que relegou a violência em nome do país contra os comunistas e os cangaceiros. Em 18 de julho de 1938, em Angicos, Lampião e seu bando foram mortos. Foram decapitados e suas cabeças ficaram expostas até a década de 1960, quando os parentes obtiveram o direito de enterrá-las.

Veja um documentário que fala sobre aspectos do cangaço:



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