Liberdade ainda que tardia!



Prof. Juliano Mota
Redação d'O Historiante

Ainda no calor de uma intensa discussão gerada em uma mesa redonda que participei sobre a importância e/ou o descrédito da religião para a sociedade, desenvolvida com vários representantes desta temática (católico, espírita, ateu, candomblecista, protestante) na escola básica, venho debruçar-me sobre um assunto que não fugirá do que será proposto nesta crônica e que está na moda, sobretudo midiática: a liberdade de expressão. Pretendo recitá-la em versos inspirados no cotidiano popular, cantá-la por entre viadutos, rodovias, estádios, praças e avenidas assim como um hino, abençoa-la ou até maldizê-la conforme a instituição que eu for porta-voz, colorir ou deixa-la na sobriedade de um  mundo cinzento  dos vícios, injustiças e desigualdades sociais.


Penso que as diversas  formas de expressão produzidas por uma sociedade ocorrem a partir de motivações políticas,  ideológicas e sociais, sobretudo fruto de um determinado contexto vivido, a exemplo do atual que é inspirador. Durante a copa das manifestações, um movimento popular (mesmo que em sua predominância das classes médias) capitaneado pelo Passe Livre, livre de partidos políticos,  de sindicatos, associações ou quaisquer outras coligações, pôs em sua mais nobre essência a criatividade e sensibilidade à tona com imagens que valem tanto quanto muitas palavras. Essa inspiração popular padrão FIFA não conseguiu tocar os sentidos de todos, sendo que uma minoria cometeu um erro comum quando não se conhece os limites, confundir liberdade com libertinagem e assim mudar o padrão de FIFA para padrão POLÍTICA BRASILEIRA.

Não ouvimos apenas do Ipiranga às margens plácidas o brado retumbante, escutamos também desse povo heroico nos morros, becos, condomínios e centros comerciais um grito de socorro pela educação, saúde, segurança, moradia, transportes, conquistas que levassem a igualdade no seio de um Estado, que apesar de democrático, nos leva em muitos momentos com o câncer da corrupção à própria morte. Tão letal quanto a má administração do que é público é privar um povo de expor o que pensa, colocá-lo no ostracismo, cercear sua liberdade como foram feitas várias vezes na história (principalmente no Estado Novo e na Ditadura Militar), podando assim a inventividade e mudança social de quem vive como um malabarista em um picadeiro, um repentista na praça nossa de cada dia ou um trabalhador com sua imensa família e um mínimo salário para sustentar.


Há quem afirme: "as coisas estão mudando! A presidenta vai até ouvir o povo através de um plebiscito!". Não discordaria dessa afirmação se vivêssemos em uma suposta ditadura enquanto regime político, ou se enquanto aparente democracia, a construção desse debate fosse muito mais ampliada envolvendo os diversos segmentos da sociedade, não possuísse fins eleitoreiros e seguisse pela via da transparência e ética. Tenho certeza que  todos os filhos dessa mãe gentil desejam que, seja pelo referendo popular, ou qualquer outra forma de diálogo com os nossos representantes, inclusive nas urnas, possamos fulgurar como florão na América e obter a paz no futuro sem esquecer das glórias do passado.
 
A liberdade de se dizer o que pensa também tem um preço. O custo de não ser entendido ou até discriminado por não crer ou aceitar  princípios religiosos, por não comungar com determinadas construções ideológicas em defesa de etnias, grupos sociais  marginalizados ou por concordar ou negar alguns avanços científicos em detrimento do que afirma a opinião pública, pode levar qualquer um a  ser taxado de intolerante, radical, preconceituoso e até antissocial. Evidentemente que o limite entre ser crítico e coerente e o de ser alienado e enviesado é  tênue muitas vezes, e que nesse campo minado estão doutrinas políticas, religiosas, experiências sociais negativas e péssimos referenciais, o que leva a um raciocínio individualista incapaz de sobreviver harmoniosamente em uma  heterogênea coletividade.


Imagino que muitos brasileiros se pudessem queriam nesse momento como em uma mistura de  canções cantar para muitos dos seus representantes : " deixa, deixa, deixa eu dizer o que penso dessa vida, preciso demais desabafar...  Sei que nem tudo tá certo mas com calma se ajeita, por um mundo melhor eu mantenho minha fé, menos desigualdade, menos tiro no pé. Que a exemplo de muitos heróis famosos (Vladmir Herzog, Chico Mendes) e anônimos, continuemos a lutar pelo colorido da liberdade de um país que é gigante pela própria natureza, belo, impávido e colosso  e  usando  como bandeira toda forma de expressão   alcancemos o pleno e total direito a liberdade  ainda que tardia.

               

Comentários

Patricia disse…
Adorei o texto,lutar pelo o direito que temos de dizer o que queremos,embora muitos não concorde,em pensar que muitos já morrerão tentando ter realmente esse direito,mas ai me pergunto quantos mais terão que morrer?

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