Dica Cultural - Guerra e Paz de Candido Portinari.




Prof.ª Aline Martins
Redação d'O Historiante




Em 1952 o governo brasileiro escolheu Cândido Portinari, o nome mais expressivo da pintura brasileira de então, para encomendar uma obra que seria presenteada à sede da ONU, em Nova York. Contrariando as recomendações médicas que o impediam de pintar por sintomas de intoxicação pelas tintas, Portinari aceitou o convite e trabalhou durante 4 anos nos estúdios da TV Tupi, com o apoio de Enrico Banco e Rosinha Leão, e com afinco e dedicação realizou o que ele mesmo afirmou ter sido o melhor trabalho que  já havia feito: seus dois últimos e maiores murais, Guerra e Paz (14 x 10 m). 


Antes de ser enviado aos EUA, um movimento de opinião pública, e um grupo de artistas e intelectuais, apelou ao Itamaraty para que os painéis fossem expostos no Brasil antes de serem doados à ONU, dando assim a chance de o público brasileiro vê-los, pela primeira vez. Guerra e Paz foram montados lado a lado ao fundo do palco do Theatro Municipal e em fevereiro de 1956 foram inaugurados pelo então presidente da República, Juscelino Kubitscheck, que, na ocasião, entregou a Portinari a Medalha de ouro de melhor pintor do ano (1956), concedida pelo International Fine arts Council de Nova York.


Portinari dedicou sua obra à humanidade. Entretanto, seus painéis não puderam ser inaugurados por ele, pois na ocasião teve sua entrada nos EUA impedida. Seu visto foi negado por parte do governo estadunidense, sob acusação de ser “comunista”. Localizados em local nobre, de acesso restrito aos delegados das Nações Unidas, no hall de entrada da Assembleia Geral, os monumentais paineis não podem ser vistos pelo público por razões de segurança, nem mesmo durante as visitas guiadas da ONU. Em 2007, o anúncio de uma grande reforma no edifício sede da ONU entre 2010 e 2013 proporcionou a oportunidade inédita de expor os painéis Guerra e Paz no Brasil e no exterior. A obra foi exposta em diferentes cidades do mundo, inclusive no Rio de Janeiro, no mesmo local onde fora apresentada pela primeira vez há mais de 50 anos atrás.


Em relação a obra: Os painéis Guerra e Paz constituem na verdade um único discurso visual, uma complexa complementaridade sobre os extremos da desgraça e da felicidade. No painel GuerraPortinari não especifica uma guerra em especial, como se afirmasse que, em essência, todas se equivalem no desencadeamento do horror e animalidade. Os cavalos apocalípticos que cortam a cena em todas as direções parecem fazer um cortejo de conquista, guerra, fome e morte. Ele não traz as cores vermelha e laranja do sangue e do fogo, nem o preto, o branco ou o amarelo - cores mais tradicionalmente utilizadas nesse tipo de obra. É o azul que domina. Com algumas nuances violáceas e esverdeadas, em tons sóbrios e frios, numa trágica e pesarosa sinfonia. Todo o conjunto passa-nos uma sensação de desconsolo e impotência. As expressões das figuras presentes em grupo compacto, ajoelhadas em oração, braços levantados com as mãos espalmadas e rostos virados para o céu,  revelam medo, tristeza e desespero. Porém, em alguns rostos, é possível ver uma brisa de força e vida, de condenação à própria existência da guerra.


O painel Paz contrasta com o primeiro em todos os sentidos, os tons nos transmitem alegria e tranquilidade. Mais do que a ideia de paz, é a própria paz que nos invade ao contemplá-lo. Penetramos num universo de comunhão fraterna, num reino mágico de cores luzentes, onde mulheres dançam enquanto os homens jogam capoeira. Onde as crianças podem ser crianças em suas doces brincadeiras infantis e onde o coro de jovens num canto universal, quase angelical, de esperança e igualdade ecoa com força por todos os lugares. 


Com todos esses tons alegres e transbordantes de vida, Portinari parece-nos dizer que a paz universal é possível e dia virá que a humanidade desfrutará da paz sem limites no espaço e no tempo.




Veja mais:
Exposição realizada no Memorial da America Latina em São Paulo em abril de 2012. 

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