O Egito ainda não é a África do Sul de Mandela.


Prof. Neto Almeida
Redação d'O Historiante

Você deve estar se perguntando: o que está acontecendo no Egito? Caso tenha assistido a um jornal ou visto uma revista nessa semana, talvez tenha se deparado com o governo, a população e o exército como alvo de conteúdo de jornais do mundo inteiro. Não à toa, o mundo ficou assombrado com o que estava se noticiando – estima-se que mais de 1000 mortos em uma só manifestação, que se estendeu pela última semana, possam ser registrados, e tanta violência poderá ser ainda maior, pois as inebriantes informações que chega até nós, seja pela tv ou pela internet, são resumos da real situação vivida pela população, principalmente na cidade capital, o Cairo.

                A situação por inteira gira em torno da posse do poder e os destinos políticos do Egito nas próximas gerações. Depois de Fevereiro de 2011, a Irmandade Muçulmana, grande alvo do exército egípcio nesse momento, parecia ter consolidado seu domínio no país mais rico do Norte da África; foi a Primavera Árabe que colocou esse grupo político, também religioso e beligerante, no poder. Desde a década de 20 do século passado que essa facção política tenta tomar a direção governamental. Somente nas manifestações do mundo árabe isso foi concretizado. O Presidente Mohammed Morsi governava desde aquele momento e, segundo a  oposição egípcia, este governava para seus partidários e não para o Egito, prática comum, até mesmo para o grupo militar que estava no poder e tenta, por meio das armas, retornar, o que parece concretizado nesse momento.



A reação frente ao governo atual, que foi derrubado nesse conflito, pois Morsi acabou sendo tirado do poder, é mais uma ação contra a derrubada de Mubarak, que ocorreu na Primavera Árabe. Estas manifestações de 2013 são justamente do exército que antes o apoiava; toda a violência imposta nos últimos dias a partidários da Irmandade Muçulmana parece não apenas querer garantir um Estado Democrático de Direitos, mas pela força das armas extirpa-la enquanto grupo político daquela região.

Na última quinta-feira (22) o então ex-ditador Mubarak foi retirado da prisão, após uma semana de intenso conflito, e foi levado para uma prisão domiciliar após a ordem da justiça. Os militares querem, de um lado, o retorno a um país de limitações politicas e dura governança, de outro, a Irmandade Muçulmana parece querer levar o Egito para o mais profundo fundamentalismo do Islã e, no meio disso tudo, uma população civil perece diante da força das armas e da imbecilidade humana. Sem ser permitida liberdade de expressão, homens e mulheres morrem defendendo opções partidárias, na frente dos tanques de guerra.

"A impressionante lição do Egito hoje é que os dois grupos mais poderosos, organizados e confiáveis do país --a Irmandade Muçulmana e as forças armadas-- provaram ser incompetentes para governar a nação", escreveu na semana passada no jornal "The Beirut Daily Star" o cientista político Rami Khouri. "E isso não se deve ao fato de eles não terem indivíduos capacitados nem aliados inteligentes e racionais, pois eles têm muito de tudo isso. Isso se deve sim ao fato de que os métodos dos soldados e da espiritualidade foram criados para mundos distintos, que não são o da governança e nem o da maneira equitativa de prestar serviços e gerar oportunidades para milhões de pessoas de diferentes religiões, ideologias e etnias... A falta de outros grupos de cidadãos nativos organizados e dignos de confiança, que possam participar do processo político e moldar novos sistemas constitucionais é consequência de como os oficiais militares, os membros de tribos e os fanáticos religiosos têm dominado a vida pública árabe há décadas."

O Egito colocou à prova seu regime militar em Fevereiro de 2011 e, ao que tudo indica, o país não tinha formado um grupo politico capaz de garantir os interesses da maior parcela da população. Ao invés de romper com anos e anos de ditadura e interesses prioritários de uma minoria, os egípcios da Irmandade Muçulmana pareciam caminhar aos rumos de seus próprios interesses. Infelizmente, a tomada do poder pelos militares não parece caminhar para uma abertura política, uma onda de alfabetização para mulheres, diversificação de pensamento religioso, muito menos tolerância, aumento da distribuição de riqueza da nação não está presente na pauta da tomada do poder. Não estaria ainda o Egito pronto para alargar suas perspectivas? Será, talvez, o Egito um país como a África do Sul de Mandela? Capaz de dotar novos horizontes à população civil? A África do Sul, após longo período sendo dominada justamente por grupos políticos que estenderam sua exploração no país, ampliou seus aspectos de sociedade aberta e diminuiu os conflitos armados, pondo abaixo vergonhas como o apartheid e elegendo o próprio Mandela presidente dos sul-africanos. 
Ao contrário, os egípcios parecem caminhar como o carro que cai da ponte sem governo e destrói ele próprio e a ponte. 

(Veja o vídeo abaixo)



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